terça-feira, 6 de agosto de 2013

MEIAS VERDADES SÃO TAMBÉM MEIAS MENTIRAS


Marcelo Dornelles Dos Santos


Como oficial da Brigada Militar tenho acompanhado o debate sobre a separação do Corpo de Bombeiros Militar da Brigada Militar a meia distância, até porque tenho posição favorável a este pleito já de longa data, o que podem afiançar as pessoas do meu convívio mais próximo.

Contudo, não posso mais aceitar calado (até proque nunca aceitei nada calado) a demonização da Brigada Militar instigada por alguns integrantes da própria corporação, pois, sim, os bombeiros ainda são brigadianos e seria importante que não se esquecessem disto.

Minhas observações apontam para duas questões elementares trazidas a público como fundamentos da separação.

A primeira diz respeito aos problemas orçamentários e de gestão que afetam o Corpo de Bombeiros. Neste aspecto, quero dizer que é certo que os bombeiros possuem dificuldades, contudo, estas dificuldades são proporcionais as enfrentadas pelas diferentes especialidades e/ou modalidades do policiamento. Se faltam recursos, efetivo, EPI, treinamento, viaturas para os bombeiros, na mesma magnitude, faltam para o policiamento. Logo, não há privilégio a atividade de policiamento, nem, tampouco, menos valia a atividade de bombeiro. Além disto, ainda com relação a questão orçamentária e de gestão, é importante fazer uma ressalva: os bombeiros tem o Fundo de Reaparelhamento dos Bombeiros (FUNREBOM) que o policiamento não tem. Não obstante, quando vejo falarem da separação, ouvesse que os bombeiros necessitam de um percentual dos recursos da Brigada Militar exclusivamente para os bombeiros, sem sequer citar a existência de tais recursos, muito menos inclui-los no montante de recursos a serem divididos. Logo, o que hoje propõem alguns bombeiros seria mais ou menos o seguinte: “o meu, é meu e o teu, é nosso”.

Em segundo lugar, com todo respeito, não dá para aguentar a vitimização dos bombeiros no que tange as supostas represálias que os bombeiros sofrem na carreira. Por favor, não zombem da minha inteligência. Os bombeiros, enquanto carreira única com a atividade de polícia, posto que originários da mesma formação, sempre foram privilegiados no que tange a ascensão funcional. Em primeiro lugar, pela quantidade de cursos de especialização oferecidos na área de bombeiros, incomparavelmente maior do que na área de policiamento, o que influenciava na pontuação dos oficiais bombeiros para a promoção por merecimento, fazendo com que, já na avaliação, saíssem na frente dos oficiais do policiamento, o que invariavelmente é referendado no ato de promoção.

Dizer que os bombeiros são desprestigiados dentro da Brigada Militar é quase um escárnio a inteligência mediana, em especial pelo fato de que tanto o Comandante-Geral, quanto o Subcomadante-Geral, postos máximos da corporação, são oficiais especializados na atividade de bombeiro. Ainda, dizer que os bombeiros são aviltados ao serem designados para unidade de policiamento, além de nova falácia, posto que nossa formação universal é policial e a atividade de bombeiro ainda é uma especialização, quer ensejar que a atividade de polícia ostensiva é menos nobre do que a atividade de bombeiro. Se ao oficial com especialização na atividade de bombeiro é um desafio ser designado para a atividade de policiamento, não menos árdua é a atividade de bombeiro para nós, “pés de poeira”, atividade esta que requer tanto conhecimento, dedicação e amor quanto a atividade de bombeiro.

Hoje, chegamos ao ponto de bombeiros criarem norma que contraria Portaria do Comandante-Geral da BM em vigor, negando-se a comparecer em quartéis das unidades de policiamento para a elaboração de PPCI das diferentes frações da corporação que, lembremo-nos, ainda é a mesma.

Entretanto, os irmãos bombeiros esquecem-se, por exemplo, que a grande maioria dos salva-vidas são oriundos do policiamento. Esta atividade certamente está com os dias contados, pois, na forma de legislação em vigor, tratar-se-ia, a partir da separação, de cedência entre órgãos e eu, como comandante, não teria porque ceder um miliciano para uma atividade não policial, não acham? Como dizem: cada um com seus problemas, ou isso só vale quando vem ao meu benefício?

Me sinto absolutamente a vontade para falar tudo isso porque, se não bastasse ser favorável a separação de longa data, a minha unidade auxiliou a conquistar votos da Consulta Popular que resultaram na eleição de um caminhão de bombeiros para a cidade de Canela e por, dentro da fidalguia, do espírito de camaradagem e da preservação do bom nome da Brigada Militar, amanhã, quando os bombeiros de Canela realizarão vistoria no Presídio de São Francisco de Paula, o nosso POE nas proximidades para auxilia-los em caso de convulsão naquela casa prisional, como não poderia ser diferente.

Quero finalizar dizendo que, mais uma vez, ao invés do foco ser o benefício da sociedade, este movimento, como os anteriores, aponta para a busca do atendimento de interesses pessoas, o que vai levar este projeto, do qual, repito, sou favorável, ao inevitável fracasso.

Por fim, quero dizer que o DESQUITE não existe mais. Ou separa ou aguenta, pois a pior alternativa possível é a tal de autonomia administrativa que arrancaria os parcos recursos da atividade de policiamento em benefício da atividade de bombeiros.

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