quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

BOMBEIROS QUE ATUARAM NA TRAGÉDIA SERÃO OUVIDOS

ZERO HORA 07 de fevereiro de 2013 | N° 17336

SANTA MARIA, 27/01/2013
Bombeiros que ajudaram nos resgates são ouvidos

LIZIE ANTONELLO

A Polícia Civil começou a ouvir os bombeiros que ajudaram a combater o incêndio na boate Kiss. Ontem, seis profissionais prestaram depoimento aos delegados encarregados da investigação a tragédia que vitimou 238 jovens.

Outros seis integrantes da corporação devem ser ouvidos nos próximos dias.

Os depoimentos seguem a linha definida pela polícia de ouvir primeiro as pessoas diretamente ligadas ao desastre. Cerca de 130 frequentadores e funcionários do estabelecimento já prestaram esclarecimentos desde o dia 28 de janeiro.

O conteúdo dos depoimentos está nas 1,5 mil páginas que o inquérito somou até agora. O delegado regional Marcelo Arigony acredita que, pelo andamento do trabalho, a investigação deve ser concluída até o final deste mês.

Depois do Carnaval, a polícia pretende ouvir o sargento Roberto Flavio da Silveira, sócio da Hidramix Prestação de Serviço, e o bombeiro aposentado Jairo Bittencourt da Silva – embora conste no site da Secretaria da Fazenda como um dos proprietários da empresa, ele diz que não faz mais parte da firma.

A empresa tem como donos, além dos bombeiros, a mulher de Souza, Gilceliane Dias Freitas. O estabelecimento está sendo investigado pelo Ministério Público desde 2011, quando o MP recebeu denúncias de que bombeiros prestariam este tipo de consultoria na área de prevenção a incêndio e, depois, aprovariam o próprio trabalho.

Ontem pela manhã, cinco mandados de busca e apreensão foram cumpridos na casa dos músicos da banda Gurizada Fandangueira. Conforme o delegado Sandro Meinerz, os próprios músicos assumiram que faziam uso de sinalizadores em suas apresentações. As fotos apreendidas nas residências, que mostram o uso dos artefatos, serão somadas às provas testemunhais.

O vocalista Marcelo de Jesus dos Santos (suspeito de usar um artefato inadequado, que teria provocado o incêndio) e o produtor Luciano Augusto Bonilha Leão estão presos desde do dia 28 de janeiro.



Oficial já foi condenado por improbidade

CAIO CIGANA

O oficial do Corpo de Bombeiros que assinou o alvará de prevenção contra incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, foi condenado por improbidade administrativa por atos praticados no período em que chefiava a corporação na cidade.

Coronel reformado, Daniel da Silva Adriano foi condenado a suspensão dos direitos políticos por três anos e ao pagamento de multa por propor à então presidente do Clube Santamariense a anulação de multas em troca da compra e instalação de cortinas no seu gabinete.

Em seu voto, o desembargador do Tribunal de Justiça (TJ-RS) Almir Porto da Rocha Filho, relator do processo, afirmou que “a conduta imputada baseia-se na promessa de omissão na prática de atos administrativos relacionados à cobrança de multas por violações de normas de segurança – prevenção de incêndio – aplicadas à sociedade civil, mediante exigência de contraprestação por parte desta de benefício ao servidor público (colocação de persianas em seu gabinete).”

Clube tinha alvará e extintores vencidos

No seu depoimento ao Ministério Público, a então presidente do clube, Márcia Loureiro Lopes, disse que, em novembro de 2008, foi chamada pelo Corpo de Bombeiros. O motivo seria multas por irregularidades no Santamariense. “Aí, então, ele (o então major Adriano) me fez uma proposta de que a dívida poderia ser paga se eu colocasse algumas persianas no seu gabinete e que ele teria pessoa para fazer isso”.

Marcia relatou que chegou a comprar as cortinas, mas foi desestimulada pelo conselho do clube. À época, revela o processo, o clube apresentava diversas irregularidades. Entre eles, alvará vencido, falta de iluminação de emergência, de alarme de incêndio e irregularidades nos extintores de incêndio do estabelecimento.

Em sua defesa, Adriano negou que tenha solicitado, pedido ou sugerido a colocação de cortinas em seu gabinete em troca de multas. Conforme o agora coronel reformado, apenas ouviu um boato sobre o assunto quando retornou de férias. Sustentou que foi procurado para resolver pendências do clube junto ao MP, cujo prazo venceria nos próximos dias. Procurado ontem à noite por Zero Hora, Adriano não atendeu ao chamados da reportagem.

Em relação à boate Kiss, o oficial assinou o alvará de prevenção concedido pelo Corpo de Bombeiros, em 28 de agosto de 2009. A polícia investiga as circunstâncias deste ato porque a boate não tem Plano de Prevenção de Combate a Incêndio (PPCI) – documento indispensável para a expedição de um alvará.



HIDRAMIX - Empresa especializada em equipamentos de segurança contra incêndio, a Hidramix Prestação de Serviço, que tem entre seus sócios o sargento do Corpo de Bombeiros Roberto Flávio da Silveira e Souza, realizou obras de atualização do plano de prevenção da boate Kiss no ano passado. Na tarde de terça-feira, policiais civis cumpriram mandado de busca e apreensão na empresa (foto ao lado).

PERGUNTAS SEM RESPOSTA

1) Afinal de contas, quem é o principal responsável pelo fato de uma boate sem condições de segurança estar funcionando legalmente?

 2) Quem é o responsável por escolher o tipo de espuma instalado no teto da Kiss? 

3) Se os donos da boate anunciavam publicamente que a casa recebia até 1,4 mil pessoas, enquanto o alvará dos bombeiros permite até 691, porque isso nunca despertou a atenção das autoridades? 

4) Por que apenas músicos e donos da boate foram presos? 

5) Se um pedido de vistoria dos bombeiros foi formalizado em novembro para a renovação do alvará, porque a inspeção ainda não havia sido feita?

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